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L_cio — ALGO

PoroAberto
5 min readNov 14, 2020

L_cio é um dos nomes de maior destaque na cena de produção de música eletrônica em São Paulo (e além), sem dúvidas. Seja solo ou em parceria, seus trabalhos têm trazido uma assinatura que se torna a cada dia mais reconhecível, sobretudo pela conjunção entre a fluidez dos beats somada à sua flauta.

Em 2018, ele lançou um dos discos mais bem produzidos do ano, Poema — cujo título é uma homenagem à sua cachorra que tinha o mesmo nome. E, no último mês de setembro, L_cio apresentou, em parceria com Sala28, ALGO, um live act em formato de realidade mixada que com certeza estará em muitas listas de melhores transmissões da quarentena. Enquanto L_cio se apresentava, mixando seus sons eletrônicos e orgânicos, éramos dragados para dentro de uma tela que fazia uma reconstrução do DJ e seu espaço em 3D.

O ineditismo sonoro e visual do evento (virtual) culminou numa apresentação ao mesmo tempo bonita, imersiva e hipnotizante. Eles conseguiram elevar a outro nível o conceito de live, se destacando (e muito) frente a tantas entradas ao vivo desajeitadas que têm inundado nossas telas nesse período. Além da apresentação em si de L_cio, o evento contou com bate-papo do próprio com seus parceiros de empreitada, como Blancah e Diego Martins.

ALGO, que significa “toda coisa sobre a qual nada se sabe” saiu como um EP com duas faixas homônimas. A primeira, ganhou clipe dirigido por Diego e estrelado pelo ator Jesuíta Barbosa, em que ele perfoma uma viagem íntima, solitária e sensual dentro de um apartamento no Copan. Já a segunda começa com uma introdução da famosa flauta de L_cio, à qual é somada a voz de Blancah e beats mais velozes do que os da primeira faixa. Ambas são músicas de pista, dançantes, mas arriscaria dizer que a segunda proporciona uma intensificação dos movimentos do ouvinte.

O EP saiu pelo DOC recs, de Gui Boratto, mesmo selo pelo qual L_cio havia lançado Poema. Conversei com o músico sobre o processo do disco, sobre o formato da live de lançamento pela Shotgun e de sua relação com os parceiros envolvidos no projeto. Aproveitem para ler e separar um tempo para assistir, pois o evento fica ainda disponível até janeiro. Infelizmente não é possível reproduzir aqui em imagem um pouquinho do que foi porque perderia a graça, tem que assistir na íntegra e ter essa experiência;

Poro Aberto: Você apresentou seu novo EP, ALGO, numa live que foi um dos eventos mais bonitos que assisti nessa quarentena. Queria saber, primeiro, como nasceram as duas faixas que compõem ALGO. O que você vê que muda (ou se expande) na sua música desde o lançamento de “Poema”? Fala um pouco também da parceria com a Blancah e a relação com o Gui Boratto em ALGO?

L_cio: Olá Perola, muito obrigado por ter assistido o live do ALGO e também pelas palavras (lembrando que o live fica online até 1 de janeiro de 2021 no shotgun). O projeto ALGO promoveu várias mudanças no meu trabalho, desde novas músicas (entre elas as 2 do EP) que estão mais impressivas e densas do que do álbum Poema, até um live novo com 10 músicas novas em um formato diferente do qual costumo apresentar — dessa vez com uma parceria com a sala28 tocando os visuais comigo. Esse trabalho certamente expandiu minhas possibilidades criativas além de me estimular com novos objetivos. Minha relação com a Blancah é muito boa, e sou fã do trabalho dela — já remixei música dela e morei 1 ano em Floripa (o que nos aproximou mais ainda). Para a faixa ALGO_2 pedi que ela tivesse uma única referência que foi o vocal de Madonna em Justify my Love e ela criou toda atmosfera que permeia a música. O Gui é um grande amigo e parceiro de produção — sou muito fan dele também e ele me dá todo suporte de pós produção das faixas que lanço no DOC records.

PA: Como foi pensada a parte visual de apresentação de ALGO, de realidade mixada? Porque a visual criado na live deu um gosto diferente pra quem estava em casa assistindo e ouvindo no dia, deu uma sensação de imersão pra gente.

L_cio: Realidade Mixada é um termo utilizado para alguns dispositivos que mesclam a realidade com o mundo virtual. No inicio da pandemia a sala28 começou a desenvolver alguns testes para conseguirmos planejar e apresentar o live, o que nos deu a possibilidade de visualizar o software sem ter que montar uma estrutura de luz. Assim, acabamos criando o formato novo para um evento virtual. Na parte técnica, trabalhamos com diversas tecnologias para que o projeto ocorresse em tempo real. Usamos o protocolo OSC para a comunicaçao dos softwares de áudio, vídeo, luz e MIDI para as interfaces de controle.

PA: Como está sendo produzir na quarentena, sem saber quando poderemos voltar às pistas?

L_cio: Esse momento é muito triste e duvidoso, o que me fez parar de tocar e ao mesmo tempo, rapidamente, focar em novos rumos do meu trabalho com música nesse novo contexto (tenho produzido outres artistes e dando tutoria de live e produção). Tem sido mais frequente meu tempo em estúdio e tem me aberto algumas novas possibilidades de parcerias e novas propostas de som. Fiz muitos remixes, collabs e muitos EPs que sairão a partir de dezembro desse ano.

PA: Você sabe que acompanho bastante seu trabalho e queria aproveitar que você topou dar essa entrevista pro Poro pra fazer duas perguntas sobre sua trajetória: Queria que você contasse um pouco da sua relação com a música, quando e por que você optou por ser músico e produtor; e queria também que você comentasse sobre uma das principais marcas das suas apresentações, que é de combinar os aspectos eletrônicos com outros instrumentos, seja você na flauta ou se apresentando com outros músicos, como na parceria com o Filipe Massumi.

L_cio: Minha relação com a música é antiga. Comecei a tocar flauta transversal aos 7 anos de idade e estudei até os 14 anos. Após isso, trabalhei com Capoeira Angola na universidade (lecionando) o que me manteve envolvido com muita música. Após muitos anos trabalhando em escola e universidades, conheci música eletrônica de forma muito despretensiosa em 2002, mas que me despertou uma curiosidade tremenda de como eram produzidas as músicas que havia escutado nas raves e clubs que comecei a frequentar. Após descobrir em um curso de produção em 2003 (acho) com o DJ Yes America em São Paulo, nunca mais parei e acabei me aprofundado, me profissionalizando e conseguindo (sobre)viver de música.

Sobre essa relação com instrumentistas penso que tem muito da raiz de música orquestrada que tive na infância e também na minha formação musical como flautista. Amo essa combinação e instrumentos “clássicos” com sintetizadores e drum machines eletrônicos (digitais e analógicos). Colaboro tocando flauta com diferentes artistas (Portable, Patrice Baumel, Guti, Davis…) e também amo gravar, lançar e tocar ao vivo com Massumi (cello), André Nardi (Oboé) e Bica (trombone), além de vocais maravilhosos de Ellie Ka, Carneosso (Laura Diaz), Blancah, Aroop Roy,,,

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