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Camila Costa lança Rodadá e Palha de Omolu

PoroAberto
5 min readJul 9, 2020

Estamos há mais de cem dias em casa, tentando nos resguardar da ameça de um vírus letal e ainda sem antídoto. A situação é um desafio para todos os setores da sociedade; impôs mudanças e nos tem feito buscar por novas formas de relação no meio artístico. Na música, têm os que se adaptaram às lives (com todos os problemas — técnicos, econômicos e pessoais* — que esse formato implica), os que foram obrigados a repensar suas estratégias de lançamento de trabalhos, como ganhar dinheiro etc. etc. etc.

Eu mesma, depois de todo esse tempo, continuo perdida. Ainda que tentando me manter atenta. E alguns dos lançamentos que me chamaram atenção foram os singles novos de Camila Costa, que já me deu uma entrevista super bacana na Antena Zero e tocou na noite PA na Fauhaus. Os dois singles que Camila lançou são bem diferentes entre si: o primeiro, Rodadá, lançado em 12/06, é uma composição em parceria com Cid Campos e que teve uma luxuosa capa feita por Augusto de Campos e Julie Bozon para seu lançamento. O segundo, Palha de Omolu, segue o estilo das composições do último disco de Camila, Mangas e Bananas Para o Meu Amor, e também ganhou uma bela imagem de divulgação feita por Lucas Agostinho. Esse single ainda soa bem oportuno ao momento, já que Omolu é o orixá da cura, que guarda os segredos da vida e da morte. Assim sendo, é bom andar com fé.

Bati um papo com Camila sobre a composição e o lançamento dos singles e sobre mais uma das novidades da compositora: ILÁ, duo formado com a baiana Neila Kahdí, que já tem perfil no Spotify e tudo,

Poro Aberto: Vamos falar dos seus novos singles? No mês de junho foram dois singles lançados, né? Me conta, como foram compostas e surgiram essas canções?

Camila Costa: Rodadá é uma parceria com Cid Campos. Eu tinha uma primeira parte, ele fez a segunda e fez o arranjo. Fizemos a canção e gravamos em 2019, no seu estúdio, em São Paulo. Resolvemos fazer um vídeo dessa canção na quarentena e nos animamos para lançar também nas plataformas digitais. Rodadá é uma música swingada com uma letra que remete à roda de ciranda ou de samba, e faz ao mesmo tempo alusão ao Dadaísmo, movimento artístico de vanguarda ocorrido no início do século XX.

Palha de Omolu comecei a fazer em 2018, na Bahia. Durante a quarentena, me reconectei com essa canção, fiz uma segunda parte e resolvi gravar e lançar nesse momento de Pandemia. Chamei Rubinho Jacobina para gravar e também me ajudar nos ajustes do som. Trabalhamos ele de Paris e eu de Lumiar. A canção é uma homenagem às divindades afro-brasileiras Omolu/Obaluaiê, orixás bastante cultuados no Brasil (no candomblé e na umbanda) por sua ligação com a cura.

PA: Como foi a gravação durante a quarentena a ideia de lançá-las?

CC: Tenho feito um movimento de tirar as músicas da gaveta. Coloca-las no mundo. Estou com um home studio improvisado, bem artesanal que permite gravar e trocar/tocar também com outros artistas a distância.

Pretendo lançar mais algumas músicas, já estou trabalhado nelas. Novidades em breve.

PA: Parece secundário, mas não é: as duas tem artes de divulgação, capas, muito bonitas. Conta um pouco dessa identidade visual de ambas.

CC: Sim! Tudo começou com esse presente que foi ter a capa do Rodadá feita pelo Augusto de Campos e pela Julie Bozon de Campos. Eles gostaram da música e se inspiraram para fazer a capa. Quase não acreditei! Augusto e Julie fizeram a arte e somaram com a imagem central, OPTOPHONE (1922), do dadaista Francis Picabia (1879/1953).

Palha de Omolu ganhou uma ilustração do artista Lucas Agostinho. Conheci seu trabalho na internet e fiquei encantada. Vi uma de suas animações sobre Obaluaiê, escrevi para ele e mostrei a música Palha de Omolu. E ele fez essa ilustração linda. A arte visual sempre se fez presente na minha vida e estou constantemente buscando essa interação com artistas visuais.

PA: Agora você também tem um duo com a Neila Kahdí, com perfil separado e tudo. O que é esse duo?

CC: Nasceu ILÁ também! Nosso encontro, meu e da Neila, é super fértil, fizemos muitas canções em menos de um ano. Já estávamos com esse desejo de lançar um EP, começamos a produzir as músicas e no início da quarentena demos um gás para finalizar 4 canções. Trabalhamos de ponta a ponta nesse projeto: composição, arranjo, execução e produção musical; e tivemos a parceria de Carlos Caji na masterização.

O duo ILÁ tem canções originais e inéditas fruto da parceria entre Camila Costa e Neila Kadhí que imprimem a diversidade e pluralidade numa brasilidade que dialoga com a modernidade e a ancestralidade, aliado ao uso de texturas eletrônicas. Beats, sintetizadores analógicos, sampler, efeitos digitais, guitarras… aliados a violões, percussões acústicas, flauta doce, vozes…

Erê em mim — Canção feita em homenagem ao Orixá criança na cultura Iorubá, conhecido como Ibeji, Erê, Dois dois, Os gemêos e São Cosme e Damião. A canção saúda o Orixá e celebra a energia positiva da criança em nossas vidas.

Coco da Zinha — Inspirada no gênero Coco. Embarcamos numa lembrança da Neila de uma figura importante do seu bairro em Salvador que fazia cocadas deliciosas.

Encantos de Boi — Inspirado no gênero Boi fizemos essa canção. A música foi nos trazendo a atmosfera dos encantados do Boi do Maranhão, fazendo alusão à canção de ninar Boi da cara preta.

Amor de my life — Inicialmente uma brincadeira nossa foi virando essa canção. Nos inspiramos muito nas canções do Zeca Baleiro que misturam expressões de diversos os idiomas.

Estamos também planejando produzir mais músicas para lançar esse ano.

PA: Como foi lançar singles e projetos durante a quarentena? Como está sendo sua relação com a composição, com as lives e etc. nesse momento?

CC: Mesmo com todas as dificuldades e de toda a triste realidade que estamos vivendo, a música, e as artes, têm tido um sentido fundamental em nossas vidas. Acho que estamos todos tentando não desanimar nesse momento. Estou trabalhando em novas canções, em velhas canções, fazendo comida, lavando a louça, fazendo uma live, assistindo uma live, arrumando coisas, estudando, lendo, me revoltando com a política do País, me aliviando no sol, lançando singles, editando vídeos, tenho chorado… tenho rido…. embora um riso mais dentro. Chocada… Chocante. E muita saudade.

Sigo por aqui criando, reinventando, estudando outras formas, experimentando, conectando com outros artistas, aprendendo a mexer nos softwares, nos aplicativos, nos improvisos… para poder compartilhar com as pessoas, para manter minha própria sanidade também.

Fiz algumas Lives surpresa no meu Instagram [@camilinhac], participei do festival Joia Rara e da Live da Socorro Lira. Live é o que temos agora mais próximo de um show. Fiz vídeos “modo quarentena” com Philippe Baden Powell, Ana Baird, Ivan Vilela e estou preparando outros. Tenho feito canções e lançado nas plataformas digitais… Numa perspectiva de um dia após o outro.

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