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Thiago Nassif — Soar Estranho

PoroAberto
5 min readMay 7, 2020

Thiago Nassif é um nome habitué nesse blog. Tem entrevista, foto, show… Ele participou da Noite Poro Aberto em São Paulo e também na edição do Rio de Janeiro, no Aparelho. Acompanho seu trabalho desde o lançamento do disco Três, quando vi seu show pela primeira vez no teatro do MAM-SP.

Thiago vem agora trabalhando para lançar seu quarto disco, que se chamará Mente. O primeiro single lançado foi “Soar estranho”, cujo clipe foi ao ar ontem. Psicodélico, colorido e cheio de ritmo, o clipe e o single dão o tom do que Thiago Nassif vem preparando. Ele que tem a pesquisa de timbres na guitarra e nos synths como central em sua música, parece mais uma vez trazer à tona o avesso do som.

O disco Mente foi co-produzido de Arto Lindsay, que também toca na faixa lançada, e sairá pelo selo britânico Gearbox. No momento, Thiago está morando e está quarentenado no Rio de Janeiro. Ele residiu na cidade por mais de 10 anos, voltou a São Paulo por um período, e agora retornou às terras cariocas. Por lá, ele tem tocado e trocado com os principais nomes da cena, como Jonas e Pedro Sá, Caio Paiva, Ana Frango Elétrico, dentre outros.

Batemos um papo breve sobre o single e o contexto do disco. Sobre o disco mesmo só quando ele sair, né? E porque é sempre bom ter uma desculpa pra trocar uma ideia com Nassif. Mas segundo Robert Christgau, da revista Noisey, “O disco dele apresenta o tipo de zumbido agressivo e ácido de Tom Zé e Elza Soares que traz em si samba e suas ramificações”. É de se ficar no mínimo curioso, ainda mais agora que descobri que ele encontrou PJ Harvey num bar em Londres.

AH! E se liguem: amanhã, sexta-feira, 8/05, sai outro single: “Plástico”.

Poro Aberto: O que soa estranho pra você?

Thiago Nassif: Pense em pessoas instrumentos, ou pessoas tendo seus timbres, modos e aspectos alterados por efeitos sonoros, assim como os pedais de efeitos alteram a qualidade do som quando acionados por fontes externas. Neste caso, sendo nós os instrumentos canalizadores, esta fonte pode vir a ser desde uma outra pessoa a qual nos influencia e puxa nossos botões, ou fases da lua, a regência dos astros ou simplesmente a política ou os governos… Delays, alterações de pitch ou tonalidade, distorções e reverberações, me deram o assunto e a ideia para escrever “Soar Estranho”. Agora em termos do que acho que soa estranho hoje em dia, tudo que tira o pé da mesmice. O não-estranho é chato, enfadonho. Parece que foi Deleuze que disse que uma pessoa só se torna interessante ou charmosa pela pitada de estranheza ou loucura que ela exibe!

PA: O não-pop pode ser o novo pop?

TN: Não sei dizer se o não-pop é o novo pop, apenas acho que cada vez mais nossos ouvidos precisam dos pontos de coalizão entre música e anti-música para se satisfazerem.

PA: Você sempre compartilha um pouco das suas referências estéticas que transparecem na sua música, como o som sintético e os ruídos do pós punk, a poesia quebrada e recheada de encaixes e jogos de palavras, o próprio ritmo picotado, que lembram também a obra do Duchamp, mas também referências à sonoridade brasileira, as cores fortes (lembro que conversamos sobre isso já também). O que a gente pode esperar do novo disco?

TN: Quando estamos totalmente certos de algo podemos ter certeza que estamos indo pelo caminho errado; Bowie disse isso e eu concordo totalmente. Enquanto estou fazendo um disco fico o tempo todo tentando me desafiar para tentar chegar o mais próximo do que conceitualmente eu entendo que seja arte. A coisa da visualidade do som, da qual a gente já falou bastante, está presente nestas composições assim como nas outras, mas no caso deste disco tentei colocar mais em voga a questão da expressividade corporal ou da dança, que é algo que vem me fascinando há algum tempo! Não consigo mais ver shows em que o artista não traga o lance performático à tona. A dança, a incorporação ou qualquer outra forma de expressividade estando presente, possibilita a quebra na divisão entre público e palco, só assim a magia acontece.

PA: Há alguma mudança de percepção musical e composição do Três pro Mente?

TN: Acho que sim, testei novas formas de cantar, busquei mais a minha voz, e também me atentei mais à estrutura musical e ao tempo dos acontecimentos sonoros em cada música.

PA: Você lançou o vinil do Três pela Foom, agora vai lançar o Mente pela Gearbox, ambas britânicas. Como se deu essa parceria de agora?

TN: Parece que os londrinos gostam do meu som,rs… Mas quem apresentou o Mente para a Gearbox foi o Nick Luscombe, radialista e DJ da BBC 3! Ele fez um programa dedicado à música brasileira (especificamente músicas relacionadas à floresta Amazônica) no ano passado e me chamou para ser entrevistado e fazer a curadoria musical do programa, além de apresentar faixas do meu álbum Três. Depois eu o encontrei na Europa quando estava em turnê e a gente bateu um papo em um bar de som Hi-fi no qual ele estava discotecando. Uma maluquice, pois em uma sala de concertos ao lado estava tendo uma performance do Philip Glass e, de repente, chegam no bar ele e a PJ Harvey. Noite intensa. Depois mandei para o Nick o Mente, ele curtiu e encaminhou para algumas labels. A Foom é uma gravadora maravilhosa e tem artistas com os quais me identifico bastante, porém eles não estão lançando muitos discos este ano. Então a Gearbox, que já é uma gravadora um pouco maior, apareceu e foi maravilhoso pois eles têm um catálogo de artistas fodas, já renomados e também um estúdio próprio de masterização e corte de vinil, o que fez o som do meu disco crescer absurdamente!

PA: Quais os planos pros próximos dias, meses ou ano de quarentena?

TN: Ficar em casa. Rsrs

Para ouvir “Soar Estranho”:

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