PORO ABERTO na antenAZero
Texto para o programa de 29/04/2020: Ana Frango Elétrico, YMA, Illy, Baiana System, Yussef Dayes, Nick Cave, Beastie Boys, RATM
Olá, ouvintes da Rádio Antena Zero! Está começando mais um Poro Aberto e eu sou Pérola Mathias. É assim que começo o programa todas as quartas-feiras. Porém, há 40 e poucos dias estamos vivendo um período excepcional. Estamos em quarentena e refazendo nossos cotidianos. Não dá para ir à rádio gravar o programa.
Ficar em casa para mim não é lá um grande esforço, há muito trabalho, estudo, me concentro e escrevo em casa. Porém, antes eu não tinha um programa de rádio. Não falava para um microfone e não tinha interlocutores que eu não via. Não convidava artistas para discutir seus discos comigo. Não precisava pensar em diálogos constantemente. Mas agora preciso: porque botei o Poro Aberto no ar. Estou escrevendo isso tudo pra dizer que nesse período de quarentena tem sido um grande esforço pra mim continuar gravando o programa simplesmente porque não tenho vontade de falar. Sim, poderia fazer um voto de silêncio. O que tem sido agravado pelo fato de que vivemos também uma crise política que tem roubado todo meu humor. É por isso que hoje decidi apresentar o Poro Aberto por texto — que você pode ler enquanto o programa rola ou depois.
O programa de hoje começou com “Promessas e Previsões”, da Ana Frango Elétrico. Eu já toquei essa faixa e algumas outras do disco Little Electric Chicken Heart algumas vezes aqui, mas fiquei com vontade de tocar hoje de novo porque achei que ela combina com esse momento. É uma das poucas faixas do disco que não é composição da própria Ana, mas do Chico França.
A segunda música do programa de hoje é “No Aquário”, single lançado pela Yma no último dia 24/04, composta pelo Lau, do Lau e Eu. É o primeiro single que Yma lança depois de seu último disco, de 2019, Par de Olhos.
Outro ótimo disco lançado em 2019 foi o Maô: contraponto e fuga da realidade, do Maurício Tagliari. Nesse disco está a faixa Sede, uma parceria dele com Luedji Luna. Na semana passada a faixa ganhou clipe, realizado por Milena Correia com performance de Izabel Nejur. “Sede” é, como escreveu Alexandre Matias em seu site Trabalho Sujo, o primeiro samba de Luedi. Um poema hai kai publicado por ela no Facebook que Tagliari quis musicar nesse ritmo. Tem 4 estrofes e 17 sílabas:
Eu
Já comi
A casa inteira
E nada de você chegar
Depois de “Sede” vem uma novíssima versão de Céu para a clássica “Carinhoso”, de Pixinguinha. Sua releitura vem em balanço de reggae e é uma das versões feitas para uma série Globo Netflix. Lembrando que Céu tem 5 discos em sua carreira (sem contar um Ao Vivo), sendo o último Apká, lançado no ano passado. Não é a primeira vez que Céu regrava clássicos do cancioneiro brasileiro. Ela já gravou também em seus discos Martinho da Vila, Nelson Cavaquinho e João Bosco. O repertório e a musicalidade de Céu estão muito ligados também ao reggae, vale lembrar sua turnê com o repertório do Catch a Fire, de Bob Marley.
Nas duas próximas músicas trago aqui uma artista que ainda não toquei no Poro Aberto, a baiana radicada no Rio de Janeiro Illy. Ela lançou seu primeiro disco em 2018, Voo Longe. E agora, em plena quarentena, lançou um disco em que reúne um repertório que ficou conhecido na voz de Elis Regina (escrevi um texto sobre o disco no #poroabertoindica). Vamos ouvir “Eu e Você”, música composta por Chico César e gravada no Voo Longe e, depois, “Querelas do Brasil”, de Aldir Blanc e Maurício Tapajós, que está em Te adorando pelo avesso.
Só fazendo um parêntese pra dizer que o grande Aldir Blanc acabou pegando a Covid-19, mas que estamos aqui na torcendo pra que ele fique bem logo. Vou deixar aqui o link sobre o ocorrido.
E antes de terminar o primeiro bloco, a gente vai de Baiana System, pra dar aquele up no astral, com a faixa “Sulamericano” remixada por Buguinha Dub. O Baiana soltou o disco de 2019 O Futuro não espera todo em dub. Depois do primeiro bloco a gente continua nesse clima com “Salve” Adubada também.
Tudo muito bom, tudo muito bem nesse clima de música brasileira contemporânea, mas nas próximas faixas a gente vai dar um giro. Começando com “What kinda music” que dá nome ao disco lançado por dois nomes de proa da cena britânica de jazz contemporâneo: Tom Misch e Yussef Dayes. O disco saiu pelo selo Blue Note e recebeu diferentes críticas. Aqui, perto de nós, foi bem elogiado pela crítica do Guilherme Espir no Oganpazan. Já a crítica de Charlotte Kroll na NME deu 3 estrelas para o disco e diz que parece que o disco deve ter sido mais divertido de se fazer do que ele é para ouvir. Enfim, fica aí pro ouvinte decidir.
Em seguida, um lançamento quentíssimo, que saiu hoje: “Cosmic Dancer” na voz de Nick Cave com arranjo para o disco em homenagem a Marc Bolan. No Youtube tem um clipe com imagens da gravação. Aff, Nick Cave. Quase mata as fãs.
Quem ainda não viu o filme dos Beastie Boys dirigido por Spike Jonze e narrado por Mike D e AD-Rock? Tem um estilão meio stand up comedy, meio TED Talk estranho, mas a história é foda demais, porque Beastie Boys é foda demais, né? É por isso que a gente vai ouvir três faixas seguidas, escolhidas sem nenhum critério específico, a não ser que fui eu que escolhi: Dub the mic; Time for living; e a eterna Sabotage. Corre pro torrent, minha gente.
E, pra fechar esse belíssimo programa, Rage Against the Machine — Killing in the name, pra todo mundo ficar rindo e pensando no vídeo mais compartilhado das redes essa semana: