Onda Mundial: a plataforma que veio para fortalecer a música na América Latina.

PoroAberto
6 min readFeb 14, 2020

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Uma América Latina jovem, contemporânea, inventiva e integrada: é esse o conteúdo que a plataforma Onda Mundial vem construindo e apresentando. Mas no que exatamente consiste essa plataforma? E se é sobre a América Latina, por que tem “mundial” no nome? Essas foram as duas perguntas que me ficaram na cabeça ao conhecer a plataforma, que chegou ao Brasil pela primeira vez durante a Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM SP), em dezembro do ano passado.

Enquanto plataforma, a Onda Mundial produz conteúdo em diferentes linguagens, fomentando a diversidade cultural e artística que provém de diversos países da América Latina. Nascida no México, é lá que se encontra o QG da plataforma, num centro cultural que se chama Galera. O centro cultural Galera é co-dirigido por Iñigo Villamil, co-fundador e diretor da agência criativa Distrito Global, fundada há mais de 10 anos, e que é um dos braços da plataforma agora apresentada, da qual Villamil é CEO. É também da agência em questão o projeto do festival Bahidorá que, assim como o espaço Galera, conta com a experiente diretora de A&R Lucia Anaya como co-programadora.

Ao se anunciar como uma Onda Mundial, os produtores da plataforma não estão de brincadeira. A ideia é levar a música contemporânea da América Latina para todos os continentes, unir os artistas que em algum momento tiveram que emigrar e, principalmente, fazer com que essa música circule dentro do nosso próprio território. Alguns valores e balizas estéticas também são marcas da plataforma, como a diversidade. Não à toa, os músicos os quais a plataforma tem lançado singles em suas coletâneas são aqueles que ocupam palcos e pistas fora do circuito mainstream, que promovem festas (entre mil aspas) undergrounds, que bebem dos ritmos periféricos, que abrem suas portas para a inclusão social. Ao lado disso está, claro, muita pesquisa estética.

Durante a SIM SP, a Onda Mundial apresentou o show case com algum de seus artistas na primeira noite do evento, ocupando o Caracol Bar com 4 nomes: DJ Tudo, Patrick Torquato, Linda Green e Bad Sista. Cada um, a seu modo, ocupa um espaço importante na produção da música contemporânea e popular.

Ainda em 2019, a Onda Mundial lançou o single "Egoísta", de L'Homme Statue, nome do projeto de Loïc Koutana (francês radicado no Brasil, integrante e performer do Teto Preto). Já nesse começo de ano, a Onda Mundial lançou o primeiro volume da coletânea Desorden y Progreso, que conta com singles dos DJs Raiany Sinara que faz parte do Bandida Coletivo, a produtora trans e criadora da Trava Bizness, Malka, a dupla da Voodoohop Yule & JGB e o DJ que já passou pela Mamba Negra e pela Voodoo, EXZ. O catálogo de artistas da Onda, no entanto, é bem mais extenso.

Conversei por e-mail com a diretora de A&R Lucia Anaya e com o consultor musical da Onda para o Brasil Béco Dranoff.

Poro Aberto: Qual a importância de criar uma plataforma que gere um ecossistema completo, que agrega a criação, a produção e a distribuição da música num território tão amplo quanto a América Latina?

Lucia Anaya: Hoje é difícil encontrar algo entre uma grande gravadora e uma gravadora independente. Algumas gravadoras podem ter a sorte de ter os hits e artistas que explodem e podem continuar com isso, ou eles constroem seu sucesso em turnê com sua marca com seus artistas que provavelmente estão em desenvolvimento. Esse ecossistema completo também é uma prova de como podemos combinar a distribuição com plataformas de streaming, a amplificação da música e dos artistas através de nossos canais e também dos lançamentos que estamos constantemente enviando para supervisores musicais de todo o mundo para colocar essa música.

PA: Ao seu ver, qual a importância do projeto para consolidação da produção musical latino-americana frente a outros polos musicais mundiais, como o norte americano e o europeu?

LA: Eu acho que a América Latina está em um bom momento para ser mais madura e consolidada em seus próprios territórios. Ainda temos um longo prazo em termos de circuitos de turnês, agências de booking, administração e produção musical. Um bom exemplo é o reggaeton ou o baile funk, ambos os gêneros na América Latina estão quebrando as paradas, fazendo turnês e obtendo milhões de visualizações, mas como podemos fazer isso do ponto de vista subterrâneo para ir nessa direção? Eu acho que esses gêneros abriram uma oportunidade para fazer isso e estão no nível dos mercados da América do Norte e Europa.

Béco Dranoff: O conceito do projeto Onda Mundial é muito importante para a união das culturas modernas da América Latina. Todos os países tem cenas incríveis de música e arte. A Onda poderá fazer grandes conexões e promover essas novas cenas e artistas a nível mundial. O Brasil também tem um nível de separação cultural e idiomática mais complexa por sermos os únicos a falarmos Português. Mas, em se tratando de música e arte, o idioma não é mais um impedimento. O mundo tem sede de conhecer a moderna cultura da América Latina pois sabe que tem muita coisa acontecendo aqui. A Onda é uma janela prá tudo isso.

PA: Há algum país em que a Onda Mundial ainda não recrutou artistas e que vocês gostariam de estabelecer parcerias?

LA: Eu definitivamente iria para Jamaica e África do Sul. Não são países latino-americanos, mas estão muito bem conectados com nossa música e raízes, por que não fazer esse cruzamento mais constantemente? Conquistaríamos o mundo juntos.

PA: Como foi a experiência de lançamento da plataforma durante a SIM São Paulo, em dezembro do ano passado?

LA: Surpreendente. Definitivamente, mostrou como o mercado musical brasileiro é super avançado, musical e organizacionalmente. A quantidade de talentos é incrível e diversificada, a cultura musical está no sangue deles e a profissionalização é realmente madura. Voltaríamos em um minuto para o SIM São Paulo.

PA: Há a perspectiva de um festival com artistas que estão sendo lançados nas coletâneas da Onda Mundial aqui no Brasil?

LA: Sim, muitos! Já estamos trazendo Teto Preto, L´Homme Statue, DJ Tudo, EXZ e a Malka para Bahidorá 2020. No ano passado, tivemos o BADSISTA e eu já havia programado o Linn Da Quebrada para mais um festival no México. No futuro, eu gostaria de explorar um show com Luedji Luna, MC Tha, Saskia, Brisa Flow e talvez um artista maior como Ludmilla. Tanta música boa.

PA: Béco, Como se deu sua conexão com o time que compõe a Onda Mundial?

BD: Meu amigo americano Michael Rucker me contou que estava se associando ao time da Onda Mundial e me convidou para ser o consultor artístico para esta primeira fase de chagada do projeto Onda Mundial no Brasil e trabalhar com a Lucia Anaya na primeira compilação Desorden y Progreso. Eu fui de Nova York a Cidade do México em Setembro do ano passado para conhecer o time lá e entender a visão da coisa toda e também conhecer o Centro Cultural Galera que é dirigido pelo mesmo grupo. Este é um espaço magnífico na parte cool do bairro Roma (do filme) na cidade e eles têm studios, co-workings, restaurante e uma sala para shows para 700 pessoas!

PA: Residindo em NY, como você faz para se conectar com os artistas que circulam pelas cenas locais aqui no Brasil?

BD: Eu vivo em NY desde 1988, sempre trabalhando na produção e promoção da moderna MPB no mundo. Até finais dos anos 90 era bem mais complexo devido a inexistência da Internet e a dificuldade de se transmitir informações. A partir dos anos 2000 tudo foi ficando mais fácil e acessível. O mundo dos MP3, file sharings, fotos e vídeos, contatos com festivais e selos gringos, tudo ficou possível de se achar na Internet. Eu venho muito ao Brasil, em média duas ou três vêzes por ano, então estou sempre vendo, ouvindo e recebendo as novidades musicais do Brasil em todos os gêneros. Também faço um programa de MPB moderna mensal chamado BRAZILAB na Rádio Gladys Palmera da Espanha, sempre procuro obter sons novos para o programa.

PA: Quais produções nacionais tem te chamado mais atenção recentemente?

BD: Estou no Brasil desde o começo de Dezembro esta vêz, vim passar três mêses! Tenho ouvido muita coisa nova incrível da Bahia e Nordeste como o Fran Gil, Ubunto, Nara Couto, Hiran, Majur, Barro, Jessica Caitano, Afrocidade, Ubunto, Telefunksoul, Leo Middea, e muito mais... O Brasil vive um momento muito forte musicalmente!

PA: Quais as expectativas para os próximos lançamentos da Onda Mundial?

BD: Vem muita coisa boa por aí! Fiquem ligados!

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