Marcelo Gross, da Cachorro Grande, lança livro que reúne 100 letras de canções e celebra seus 50 anos de vida

O livro será lançado pela Editora Aboio e terá renda revertida para a recuperação da livraria Taverna, atingida pelas chuvas que inundaram Porto Alegre

PoroAberto
4 min read3 days ago
Marcelo Gross — Foto: Fabrício Simões

Marcelo Gross é guitarrista de uma das bandas mais importantes do rock gaúcho, a Cachorro Grande, formada em 1999, além de ter acompanhado, como baterista, ninguém menos que o ícone do psicodelismo à brasileira Júpiter Maça. Quem viveu os anos 2000 até aqui e acompanha a música independente brasileira, com certeza assistiu a diversos shows da banda, que rodou bastante por festivais independentes ao redor do Brasil com seu sotaque característico dos pampas. Ou até mesmo esbarrou com algum de seus membros no Baixo Augusta (que viria a dar nome ao 6º álbum da banda).

O que talvez possa ter passado batido pelos ouvintes é que Marcelo Gross é autor de várias das letras da banda, incluindo as mais clássicas como Lunático, Hey, amigo!, As próximas horas serão muito boas, Sinceramente, Que Loucura! etc. Afinal, são 8 álbuns de estúdio desde 2001. Enquanto organizava as letras para o livro, junto ao jornalista Saulo Marino, Gross percebeu havia 50 composições com letras suas para a banda e 50 para sua carreira solo. Tudo isso no ano que ele completa 50 anos — baita coincidência e momento para comemorar.

Ao mesmo tempo que o clima de celebração paira no ar, uma grande tragédia climática acomete o Rio Grande do Sul. Temos visto inúmeras cidades completamente debaixo d’água e pessoas que perderam todo o patrimônio de uma vida inteira. E não é diferente com os comércios e locais de cultura, como a Livraria Taverna, que fica no histórico edifício Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura Mario Quintana.

Conversei com Gross sobre o livro, que sai pela Editora Aboio, o lançamento e também aproveitamos para falar do recente show realizado no Cine Joia pela Cachorro Grande, junto a Lucas Silveira (Fresno) e Samuel Rosa, que teve como objetivo arrecadar fundos para o Rio Grande de Sul.

Pérola Mathias: Como surgiu a ideia de fazer um livro compilando as letras que você compôs?

Marcelo Gross: A ideia veio do Saulo Marino, que me ajudou a organizar o livro. A gente estava trabalhando em outro livro, de entrevistas, contando a minha história, quando surgiu a ideia de fazer uma compilação com todas as letras de músicas que lancei em minha carreira. Quando fui contar, coincidentemente deu 100 letras: 50 que escrevi para a banda Cachorro Grande e 50 que tinha escrito para a minha carreira solo. Como eu estava também completando 50 anos de vida, achei o momento perfeito para reunir tudo em um livro.

Quando eu era adolescente escrevia poesias, influenciado pelos meus escritores favoritos da geração Beat como Allen Ginsberg, Jack Kerouac e Lawrence Ferlinghetti, e brincava de editar livros com meus poemas, dividindo folhas de ofício datilografadas em 4 e grampeando, de modo que ficavam como um livreto. Esse início, escrevendo poesias na minha adolescência, me ajudou quando comecei a escrever canções, tempos depois.

Marcelo Gross, guitarrista da banda gaúcha Cachorro Grande — Foto: Fabrício Simões

PM: Você diferencia o seu estilo de escrever para o Cachorro Grande e para a carreira solo? São processos diferentes ou apenas momentos distintos de vida e de carreira?

MG: Não diferencio, até porque durante um período eu mostrava todas as composições para a banda, as que eles não achavam adequadas eu gravava nos meus álbuns solo.

Muitas até por terem uma conotação mais pessoal. Fico feliz que algumas canções fizeram parte da vida das pessoas em seus cotidianos como “Sinceramente” , “Dia perfeito “ e “Bom Brasileiro”

PM: Como foi fazer um show com a Cachorro Grande e vários outros artistas em prol do Rio Grande do Sul neste momento em que o estado passa por essa enorme tragédia?

MG: Foi incrível, eu tive a ideia de reunir a banda pra ajudar as vítimas da enchente, liguei pro Beto [Bruno, vocalista da banda] e ele topou. Então ele entrou em contato com o pessoal do Cine Joia em São Paulo e, rapidamente, conseguimos organizar e realizar o show, fazendo com que toda a receita fosse entregue as entidades que estão na linha de frente ajudando as vítimas dessa catástrofe sem precedentes na história do nosso estado. Tivemos as participações especiais do Samuel Rosa e do Lucas Silveira e foi bonito e significativo pra gente poder realizar o evento!

PM: Você pretende rodar por diversos estados e cidades para lançar o livro?

MG: Pretendo sim, já estou marcando algumas coisas no formato de palestras sobre composição e pocket shows. Além do livro GROSSWORDS, estou lançando também um DVD e álbum ao vivo chamado GROSSROADS, com as principais composições da minha carreira. Estarei na estrada divulgando esses trabalhos simultaneamente.

PM: Além de comprar seu livro, como as pessoas podem ajudar a classe artística do sul neste momento?

MG: Tem um projeto chamado APTA, que reúne recursos para a classe artística do estado que ficou sem poder trabalhar durante o período de enchentes e de reconstrução. Através do APTA as pessoas podem ajudar a classe com doações.

Leia no site da Aboio o prefácio escrito por Paulo Miklos.

--

--