A grande sacada de Marina Herlop

Artista catalã com formação em piano clássico apresenta seu trabalho experimental nos festivais Primavera Sound BR e Novas Frequências

PoroAberto
2 min readNov 28, 2023

A compositora catalã Marina Herlop é uma das artistas que vem ao Brasil pela primeira vez e que se apresentará tanto no festival Primavera Sound, em São Paulo, quanto no Novas Frequências, no Rio de Janeiro — assim como a colombiana Lucrecia Dalt, de quem falei na semana passada.

Com formação em piano clássico, Marina Herlop tem 4 discos lançados. Os dois primeiros são de composições com piano e voz. Eles mostram o lado virtuoso da artista, mas não tiveram impacto fora da cena local ou do meio musical. Ao perceber que sua música não estava chegando ao público, muito menos despertando o interesse para além do ambiente do conservatório, a artista se isolou na casa de campo da família para aprender o básico do Ableton Live — o que, em entrevista à Pitchfork, ela diz que foi mais difícil do que aprender a mais complicada peça de Chopin.

Desse esforço nasceu Prypiat, um álbum cheio de truques e camadas. Apesar do piano e da voz serem centrais, eles surgem em desconstruções e reconstruções, ora quase mântricos com repetições curtas de notas, ora quebrando os ritmos e a harmonia. A voz processada se multiplica, às vezes surge em eco, entoa sílabas incompreensíveis, mas perfeitamente lógicas à audição. A glossolalia criada por Herlop não é religiosa, mas tem lá suas inspirações, como a da música carnática indiana. Tudo isso se soma a sample e colagens, como sons de pássaros e riachos, e algumas (poucas) batidas eletrônicas, além de inspirações em anime e mangá japoneses, como Ghost in a shell, cuja adaptação audiovisual conta com trilha do compositor Kenji Kawai.

O álbum foi uma virada não só na forma da artista fazer música, mas também na sua recepção. Tendo seu som comparado com os experimentos de Bjork pela crítica, ela também chamou atenção de David Copner, do Animal Collective, que a convidou para abrir os shows da banda durante uma turnê pela Europa.

O álbum demorou quatro anos até ser lançado, em 2022, por causa da pandemia. Quando finalmente saiu pelo selo berlinense PAN. Nesse tempo, ela compunha Nekkuja, seu mais recente trabalho, lançado no último mês de outubro.

O fato de uma artista experimental como Marina Herlop compor lineup de um grande festival como o Primavera Sound é um grande acontecimento, já que a recente multiplicação do número de grandes eventos tem instado as produtoras a apostar no que garante o retorno certeiro.

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